Revelar com Cafenol
Submitted by nunol on 2 October, 2013 - 14:47Começar a revelar a preto e branco em casa de modo pouco regular... Qual o revelador mais adequado? Essa foi a questão que surgiu no inicio, tendo como resposta o Agfa Rodial, esse nobre e fiável amigo de 1891. Conhecido por durar e durar sem se deteriorar por tempo quase indeterminado e relativamente fiável. No entanto, aparece muitas vezes como sendo um óptimo revelador a baixas velocidades, criando bastante grão nas mais altas. E se quiser usar filmes mais sensiveis, o que fazer? Há uma grande gama no mercado, sendo a sua maioria com validade curta ou em pó, tendo-se que fazer 5 litros de cada vez ou métodos menos recomendáveis...
E que tal usar café? Já tinha visto este processo descrito, tendo, segundo alguns, um comportamento semelhante ao Xtol, revelador conhecido. Este "novo" químico, de seu nome cafenol apresenta logo à partida uma série de vantagem: se não usar-se parte dos componentes bebem-se, relativamente barato, à mão e sobretudo ecológico!
Assim, passe-se aos 4 componentes do cafenol:
1. Café instantâneo - O mais fácil. Encontra-se em qualquer grande superfície. No entanto há estudos e testes que comprovam que a qualidade do mesmo poderá ter uma influência (quase imperceptivel) no resultado final. Mas comecemos com um de supermercado.
2. Carbonato de sódio (sem bi no principio) - Já tinha usado na cianotípia, tinha em casa. Chama-se a atenção que é diferente do bicarbonato de sódio, usado na cozinha. Na minha experiência descobri estar presente em duas situações no dia a dia: pó para subir PH nas piscina e soda (leve ou densa). No formato de soda é (era) normalmente usada para lavar apetrechos como barris de vinho e superfícies ligadas à indústria vinícola. Passivel de ser encontrado em lojas ligadas à especialidade e drogarias. Arranjei soda leve em pó numa loja de restauro para móveis a 3,60 euros 1kg. Importante: tem de ser em pó (devido à existência de outras sub tipologias que se apresentam em cristais. Este formato é menos adequadas)
3. Ácido ascórbico, também conhecido por Vitamina C - foi-me sugerido o Celeiro, no entanto, como se poderá imaginar, há mais que um ácido ascórbico e o de ingerir não estará propriamente puro. Assim, para não complicar, preferi comprar numa casa de material para laboratório, a Vlab devido à pressa (um pouco mais caro: 25,30 euros 100 gramas). Encontrei também no Ebay a valores muito mais baixos.
4.Brometo de Potássio - da família do sal, também comprado na mesma casa a 14 euros por 100gr. Como a quantidade é residual, nem vale a pena procurar em mais locais.
Receitas
Existem várias receitas disponíveis na internet, tendo acabado num Blog onde as experiências são mais conhecidas e de resultados mais consistentes. O do senhor Reinhold Ele propõe 3 receitas base ajustadas para o tipo de utilização a ser dado. Verifiquei que há toda uma comunidade que se baseia nas mesmas. Se funciona com os outros, funcionará comigo. No blog encontra-se muito exemplos do seu uso. Consegui perceber que a receita mais ajustada para o meu caso, velocidades mais altas, seria a Caffenol CH. No entanto não encontrei nenhum exemplo com o Ilford HP5+ a 400. Assim continuei até encontrar a Bíblia das receitas de Cafenol. Aqui verifiquei uma variação à receita CH, oferecida pelo senhor Eirik Russell Roberts, a de Caffenol CH(rs). Através da diminuição da quantidade de carbonato de potássio, o PH é mais baixo diminuindo o contraste, melhorando a imagem. Após ver esta imagem, passou a fazer ainda mais sentido.
Preparação
Ao invés de fazer uma "litrada" de revelador, converti os valores para 300ml.
Começa-se por misturar o café numa garrafa com 150ml de água e a parte de carbonato noutra separada com a mesma quantidade. Isto tem por objectivo garantir que tudo estava muito bem diluído antes de juntar ambos os componentes e evitar a reacção logo à partida quando se junta o ácio ascórbico com o carbonato de sódio. Depois, junta-se ambas as soluções e o brometo de potássio. Faço a ressalva que, como a receita convertida só pedia 0.3 gr de brometo de potássio, optei como diluir uma grama em 10ml de água, juntando posteriormente 3ml à solução.
Se pensaram, como eu, que temos agora um revelador com cheirinho a café, desenganem-se que aquilo cheira quase a esgoto!
Revelação:
13 minutos para começar, normalmente. Sem qualquer tipo de alteração do processo.
Há apenas a nota que fiz um passo intermédio de tirar o máximo de cafenol possível com água antes do banho de stop (tornando-o praticamente inútil) para o poder reutilizar este segundo banho em revelações mais "convencionais".
Algumas fotos da Canonet carregada com Ilford HP5+ revelado por 13 minutos com cafenol:
Considerações finais
Para finalizar, há que lembrar que, visto sermos nós a misturar os componentes, torna-se, ao contrário dos reveladores de compra, poder criar uma receita que melhor se adeqúe às nossa necessidades, nomeadamente em assuntos como o contraste. Mais isso serão outras guerras mais à frente!
Um agradecimento especial ao Gonçalo Matias, todas as fotos da sua autoria e publicadas com permissão.
Referências:
www.caffenol-cookbook.com
caffenol.blogspot.pt