Teste ao Ferrania P30

É impossível olhar para o Ferrania P30 sem primeiro conhecer alguma da história por trás da marca Ferrania. E tudo isto começa em 1882, com a Sociedade Italiana de Produtos Explosivos (SIPE) que teve bastante sucesso durante os períodos de guerra devido ao seu fornecimento de explosivos à base de nitrocelulose.

Numa fase de menos clientes, SIPE decidiu variar o seu mercado. Como as propriedades químicas dos seu explosivos eram muito idênticas ao do filme inicial, a SIPE juntamente com a Pathé Brothers (empresa francesa fabricante de materiais fotográficos) criaram a marca FILM Ferrania. Conseguiram fabricar produtos para fotografia e cinema a um custo razoável permitindo à marca alcançar uma posição de liderança mundial.
Essa posição coincide também com o lançamento das primeiras máquinas da Leica que transformou a fotografia de celulóide num produto de extremo sucesso.

Surgiram os primeiros formatos de cinema 16mm e os formatos de filme de 35mm e 120.

Ferrania tornou-se numa marca muito usada e cuidada pela escola de cinema italiana. Pasolini, DeSica, Rossellini e Fellini usaram ferrania em quase toda a sua carreira, sendo um grande influência para gerações futuras de artistas cineastas.

Foi o P30, filme a preto e branco a jóia da Ferrania, principalmente depois de ser usado no filme “Duas Mulheres”, estrelado por Sophia Loren e dirigido por Vittorio De Sica e também o sucesso de Fellini “8 1/2” estrelado por Marcello Mastroianni e Cláudia Cardinale que ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro.

A partir daqui a Ferrania desenvolveu de imediato uma versão de 35mm e 120 do P30 para que os fotógrafos da época pudessem ter a sensação “Fellini”.

No entanto, Ferrania não foi só a preto e branco. Ferrania color é a primeira emulsão a cores da marca. Infelizmente não foi muito bem recebida pelos cineastas devido à sua falta de sensibilidade.

Ferrania lançou ainda um filme slide calibrado para a luz do dia cuja qualidade nunca foi igualada pelos seus concorrentes. Desenvolveu também filme de raio X que não precisava de uma camara escura para processamento.

Foi a concorrência como a Fuji e Ilford, uma estratégia de marketing ambígua e a nova era digital que ditou o fim da Ferrania, fechando as portas em 2010.

Em 2013, Film Ferrania surge graças a uma angariação de fundos através de um crowdfunding. Esta ideia foi de Nicola Baldini e Marco Pagni, ambos ligados ao cinema e à fotografia de laboratório, tornando-se CEOs da Film Ferrania.
2017 marca o inicio da produção do P30 alpha, um filme pancromático de velocidade 80 ASA com grande teor de prata baseado na antiga formula usada nos filmes cinematográficos.

Vamos então à nossa visão técnica e gosto sobre o P30 da Ferrania.

O P30 é um rolo a preto e branco, pancromático com grande teor de prata o que resulta em imagens de grande contraste. É de ISO 80 ( baixa sensibilidade) e até agora está disponível no formato 35mm.

A grande quantidade de prata característica deste filme dá-nos imagens com muito contraste e quase nenhum grão. Consequentemente, esta caraterística torna o filme limitado na sua escala de cinzentos. Temos sombras muito negras e as altas luzes enérgicas e brilhantes. Não há perdão para erros de fotometria.

 

Tenho dois rolos P30 fotografados com a mesma máquina. Uma Olympus OM1.
A diferença dos dois foi na revelação onde foi usado reveladores e processamentos diferentes e um destes rolos foi exposto a +1 stop.

Os meus resultados têm uma certa incoerência. Num rolo de 36 fotogramas temos várias imagens diferentes, independentemente de termos fotografado na mesma altura do dia, à mesma hora e com os mesmo settings na máquina. O contraste vai variando.
Manter o foco sempre correto foi dos meus principais objetivos, pois queria ter a certeza de que teria imagens nítidas e detalhadas. Não tive em todas as imagens, apesar do cuidado.

O contraste é lindo. Dá este aspeto cinematográfico característico de que gosto muito.

O processamento do P30 é algo a ter em consideração. A marca Ferrania disponibiliza no seu site os tempos de revelação e processamento para cada revelador.

Tive a oportunidade de fotografar dois P30 e de vê-los processados de forma diferente.

 

 

Resultados

Ferrania P30 + Olympus OM1 – +1 stop revelado com Rodinal developer – agitação lenta (1 inversão lenta a cada 30s)

Ferrania P30 + Olympus OM1 – +1 stop revelado com HC-110 – agitação energética (5 inversões a cada 30s)

O Nuno revelou um dos P30 com o revelador Kodak HC-110 e eu usei o Rodinal.
O Nuno é um expertise em técnicas de laboratório fotográfico com vasto conhecimento em revelação. Tenho a certeza de que ele sabe prever o resultado de cada rolo para cada tipo de revelador/revelação.
Especificamente para o P30, um processamento mais lento dá resultados mais constantes. O P30 é um filme que não gosta de grandes agitações. Gosta de uma revelação calma e quase sem abanões. Certifiquem-se que o vosso tanque está cheio até cobrir o rolo por completo.

 

 

Considerações finais

Resumindo, para quem gosta daquele contraste romântico com um certo “glow” nas altas luzes e aspecto cinematográfico do preto e branco, o Ferrania P30 é com certeza uma opção a explorar.

 

 

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